O homem, o não-chorar e o não-sorrir

Em algum momento da minha formação de adulto-homem, lembro claramente de duas coisas:

1) de ser dito que eu não devia chorar;

2) de ser dito que eu não devia sorrir.

Não-chorar veio primeiro. Eu ainda era pequeno. Muitas e muitas vezes ouvi que homem que chora não é homem. É frouxo. Não aguenta. Espana. Passa vergonha.

Está certo que o choro é multitarefa. Ele serve pra expressar a dor e serve também pra transbordar de alegria. Não é pouco, mas mesmo perdendo um bocado do espectro de manifestação das emoções, a gente até se acostuma com a diretriz, porque não é toda hora que dá vontade de chorar. Parece que não vai fazer tanta falta — embora faça.

Já não-sorrir veio só depois de adulto. Veio junto com o trabalho, com a necessidade de impor respeito, de criar aquela carranca que dá medo. Eu não sei se sou muito bom nisso, confesso.

Ainda assim, dessas duas características que definem o homem — o não-choro e o não-sorriso — arrisco dizer que o não-sorriso é a que dói e mutila mais. Afinal, uma vez que você não sorri, a musculatura do rosto vai perdendo tônus e dá lugar a uma expressão triste, afundada, de quem foi deixado pelo brilho e pela alma.

Olha direitinho ao redor aí. Seu pai, seu tio ou mesmo o desconhecido ao seu lado no ônibus agora. Não é difícil ver quem levou a sério essa ordem.

O pior, claro, vai ser se você tiver que ir até o espelho para ver.

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