O que as árvores ensinam sobre solidão e pertencer

Árvore

Grandes artistas, obviamente, são famosos por suas obras. Um escritor como Hermann Hesse tem sua lista de livros que estão sempre em algum grau de evidência. No caso dele, principalmente Sidarta e Damian.

Mas eu tenho comigo um pensamento. Obviamente que o que faz um artista ser reconhecido tem seu valor, mas gosto de procurar pelo que é feito sob a meia-luz da intimidade. Quando ouço Beatles, por exemplo, minhas gravações preferidas são as demos, as versões inacabadas, os áudios de ensaio. Amo os rascunhos e storyboards do Hayao Miyazaki, do Studio Ghibli. E, no caso de escritores, meus olhares se voltam para as anotações e ensaios.Inscrito

Nos últimos dias, esbarrei em um belo trecho de Hermann Hesse (2 de julho de 1877 – 9 de agosto de 1962) — um dos mais belos que já li — de sua coleção de fragmentos de 1920, Wandering: Notes and Sketches.

Essas anotações marcam um período de sua vida no qual ele estava buscando a proximidade com a natureza. Em meio a essa busca, suas observações se voltam às árvores. O resultado vale seu tempo, especialmente se você, como eu, for uma pessoa que sente o magnetismo do tempo a sós e da contemplação.

“Para mim, as árvores sempre foram os pregadores mais penetrantes. Eu as reverencio quando vivem em tribos e famílias, em florestas e bosques. E, ainda mais, eu as reverencio quando estão solitárias. Elas são como pessoas solitárias. Não como eremitas que se afastaram por alguma fraqueza, mas como grandes pessoas solitárias, como Beethoven e Nietzsche.

Nos seus ramos mais altos, o mundo sussurra, suas raízes descansam na infinidade; mas elas não se perdem lá, elas lutam com toda a força de suas vidas por uma única coisa: cumprir-se de acordo com suas próprias leis, construir sua própria forma, representar-se. Nada é mais sagrado, nada é mais exemplar do que uma árvore bela e forte.

Quando uma árvore é cortada e revela sua ferida de morte nua ao sol, pode-se ler toda a sua história no disco luminoso e inscrito do seu tronco: nos anéis de seus anos, suas cicatrizes, toda a luta, todo o sofrimento, toda a doença, toda a felicidade e prosperidade estão verdadeiramente escritos, os anos estreitos e os anos luxuriantes, os ataques suportados, as tempestades enfrentadas. E todo jovem camponês sabe que a madeira mais dura e nobre tem os anéis mais estreitos, que alto nas montanhas e em perigo contínuo crescem as árvores mais indestrutíveis, as mais fortes, as ideais.

As árvores são santuários. Quem sabe como falar com elas, quem sabe como ouvi-las, pode aprender a verdade. Elas não pregam aprendizados e preceitos, pregam, indiferentes aos pormenores, a antiga lei da vida.

Uma árvore diz: Um núcleo está escondido em mim, uma faísca, um pensamento, eu sou vida de vida eterna. A tentativa e o risco que a mãe eterna tomou comigo são únicos, única a forma e as veias da minha casca, único o menor jogo de folhas em meus ramos e a menor cicatriz na minha casca. Fui feita para formar e revelar o eterno em meu menor detalhe especial.

Uma árvore diz: Minha força é confiança. Não sei nada sobre meus pais, não sei nada sobre os mil filhos que a cada ano brotam de mim. Vivo o segredo da minha semente até o fim, e não me preocupo com mais nada. Confio que Deus está em mim. Confio que meu trabalho é sagrado. É desta confiança que vivo.

Quando somos atingidos e não podemos mais suportar nossas vidas, então, uma árvore tem algo a nos dizer: Fique em paz! Fique em paz! Olhe para mim! A vida não é fácil, a vida não é difícil. Esses são pensamentos infantis… Lar não está aqui nem ali. O lar está dentro de você, ou o lar não está em lugar nenhum.

Uma saudade de vagar rasga meu coração quando ouço árvores sussurrando no vento ao entardecer. Se alguém as escuta em silêncio por muito tempo, essa saudade revela seu núcleo, seu significado. Não é tanto uma questão de escapar do sofrimento, embora possa parecer assim. É uma saudade de casa, de uma memória da mãe, de novas metáforas para a vida. Ela leva para casa. Todo caminho leva de volta para casa, cada passo é nascimento, cada passo é morte, cada sepultura é mãe.

Assim, a árvore sussurra ao entardecer, quando estamos inquietos diante de nossos próprios pensamentos infantis: As árvores têm pensamentos longos, respirando lentamente e tranquilos, assim como têm vidas mais longas que as nossas. Elas são mais sábias do que nós, enquanto não aprendemos a ouvi-las. Mas quando aprendemos a ouvir as árvores, então a brevidade e a rapidez e a pressa infantil de nossos pensamentos alcançam uma alegria incomparável. Quem aprendeu a ouvir as árvores não quer mais ser uma árvore. Ele quer ser nada além do que é. Isso é o lar. Isso é felicidade.

Essa frase ressoou forte aqui e vou repetir para enfatizar:

Quem aprendeu a ouvir as árvores não quer mais ser uma árvore. Ele quer ser nada além do que é. Isso é o lar. Isso é felicidade.”

Você também gosta de anotações e rascunhos? Tem alguma coleção dessas para indicar?

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